Saúde

Os perigos de dormir pouco ou demais

26 junho Revista Conexão Nordeste 0 Comments


A vida moderna traz muitos compromissos e o tempo fica cada dia menor, por isso a grande maioria das pessoas sacrifica o sono. Dorme o mínimo e vive com sono. Cochilar ao volante, perder o fio da meada durante uma conversa e repetir actos automáticos, sem consciência do que se está fazendo, podem ser sintomas de um distúrbio cada vez mais presente nos consultórios de neurologistas: a síndrome do sono insuficiente de origem comportamental, que atinge 5% da população.


Além de causar a perda da produtividade, a sonolência excessiva também coloca em risco a vida daqueles que dirigem, cuidam de crianças ou operam máquinas. A sonolência pode causar graves acidentes, isso em fracção de segundos. Ninguém quer abrir mão das muitas actividades para dormir, mas essa atitude pode ser fatal.

A sonolência excessiva funciona como uma febre, que avisa que algo vai mal no organismo. É preciso que o paciente passe por exames médicos para excluir doenças que influem na qualidade do sono, como Parkinson, epilepsia, apneia (obstrução das vias respiratórias durante o sono) ou narcolepsia (estado de sonolência contínuo com crises incontroláveis).

Em todo o mundo, entre 32% e 40% das pessoas relatam, num ano, terem enfrentado dificuldade para dormir durante algum período. É possível enfrentar o problema melhorando a qualidade de vida. Tomando cuidados com a alimentação e praticando exercícios. O indivíduo tem de dormir o tempo que for preciso para se manter desperto e atento no dia seguinte. Na maior parte dos casos, esse tempo varia de sete a 10 horas por noite – afirma o neurologista suíço Claudio Bassetti, presidente da Sociedade Europeia do Sono.


A falta de sono já é factor de risco isolado para diversas doenças.

Pode ser tão decisiva para o aparecimento da diabetes quanto a má alimentação e o sedentarismo, tal como outras doenças como pode provocar problemas cardíacos, obesidade e até mesmo…. morte súbita. E isto são algumas das consequências da pouca quantidade ou qualidade de sono.

Comprimidos não são a solução. «É preciso tratar a doença e não os sintomas», defende especialista.

Sabe-se agora que, sem o repouso nocturno adequado, o corpo e a mente perdem muito mais do que a hipótese de repor as energias gastas durante o dia.

A privação de sono leva o organismo a um descompasso cujas consequências vão muito além da sonolência.

As noites em claro estão associadas a alguns dos mais comuns e perigosos distúrbios da modernidade, como a hipertensão, o enfarte, o derrame, a depressão, e até mesmo a morte súbita.

No caso das doenças metabólicas, como a obesidade e a diabetes, dormir mal é tão perigoso quanto não se alimentar de forma equilibrada e não praticar exercício físico.

Um estudo publicado na revista cientifica Clinical Endocrinology & Metabolism, conduzido por investigadores da Universidade de Chicago, mostra a estreita relação entre a privação de sono e a resistência à insulina, condição que predispõe à diabetes e às doenças cardiovasculares.

“O organismo interpreta o stress provocado pelo sono inadequado como se estivesse em situação de perigo”, diz o neurologista Flávio Aloé do Centro Interdepartamental para os Estudos do Sono da Universidade de São Paulo. “Diante de tal ameaça, responde com o aumento da secreção do cortisol, adrenalina e noradrenalina, hormonas associadas ao stress e esse cocktail de hormonas traz um alto risco para a saúde”.

Quem dorme mal tem cinco vezes mais probabilidades de desenvolver um quadro de pressão alta do que uma pessoa sem problemas para dormir, e o motivo é simples, é que as hormonas acima citadas favorecem não só a hipertensão, como as arritmias cardíacas.

Portugal é depois da França, o país da União Europeia que apresenta maior consumo de medicamentos para dormir.

«O sono é uma necessidade fisiológica tão importante como comer ou beber, mas temos pouca noção disso, o que leva a que ainda se investigue muito pouco as causas e consequências das perturbações do sono», diz a psiquiatra Marta Gonçalves, responsável do Instituto do Sono, Centro Clínico e Investigação.

Distúrbios Associados à Privação de Sono e/ou demasia

- Resistência à insulina, sem o repouso nocturno adequado, o organismo aumenta a produção de cortisol, adrenalina e noradrenalina, hormonas associadas ao stress. Em excesso, tornam as células resistentes à insulina, o que dificulta o processo da glicose e predispõe à diabete tipo 2.

- Hipertensão, o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina são também vasoconstritores. Quatro horas e meia de sono por noite, ao longo de cinco noites, reduzem até em 50 por cento a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos, o que pode levar à hipertensão.

- Doenças do coração, noites mal dormidas podem alterar os impulsos eléctricos que regulam os batimentos do coração. Com isso aumentam os riscos de ocorrência de arritmias e outros problemas cardíacos, tais como acidentes vasculares cerebrais, ataques cardíacos e doenças cardiovasculares que muitas vezes resultam em morte precoce.

- Baixa imunológica, a privação do sono provoca redução dos níveis de CD4, CD8 e células T, os principais agentes de defesa do organismo. Dormir mal pode, portanto aumentar a vulnerabilidade a doenças infecciosas.

- Apneia do sono, a apneia de sono, pode, «em casos extremos, conduzir mesmo à morte súbita». A apneia de sono é uma perturbação caracterizada por paragens respiratórias com duração superior a 10 segundos que se repetem durante a noite. «As paragens respiratórias exigem um esforço cardíaco muito elevado. A sobrecarga leva a alterações cardíacas e pode mesmo, em casos extremos, resultar em casos de morte súbita», diz a psiquiatra.

- Problemas psicológicos, o dormir pouco ou mal também influencia em muito as doenças do foro psicológico. Mas, nestes casos, «acaba por ter um "efeito bola de neve". O dormir pouco pode conduzir a uma depressão, condição psicológica que normalmente gera a insónia, que agravará a depressão». Durante ressonâncias magnéticas, pessoas saudáveis mas com privação de sono apresentam aumento de actividade na amígdala, órgão cerebral envolvido no processamento das emoções, e redução de actividade no córtex pré-frontal – as mesmas alterações observadas em pessoas deprimidas.

- E muitos mais distúrbios são associados ao mal sono, tais como as dores crónicas, obesidade, colesterol alto, dores de cabeça, diminuição de reflexos, problemas de concentração e psicológicos, irritabilidade ect…

Dormir mal e os jovens

Dormir em horários regulares e num ambiente calmo, adequado ao sono, é essencial para o desenvolvimento físico e mental das crianças. Especialistas alertam que criança que não dorme direito, além da sonolência durante o dia, pode ter alterações de humor e apetite, desatenção nas actividades escolares e quotidianas, além de problemas no crescimento.

Ir para a cama cedo ajuda a evitar a depressão. Essa é a descoberta de cientistas da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos. O grupo de pesquisadores descobriu que a depressão é 24% mais comum em adolescentes que têm permissão para ir para a cama tarde que em jovens cujos pais exigem que se recolham mais cedo. O estudo mostra que os voluntários que se deitavam muito tarde dormiam, em média, sete horas e meia por noite; os que se recolhiam mais cedo, oito horas e dez minutos, em média.

Os pesquisadores interpretavam “horário de dormir imposto pelos pais” como o oposto de “contar horas de sono”, para descartar a possibilidade de que a depressão estava fazendo alguns jovens dormir menos, e não o contrário.

Um trabalho anterior sustenta a ideia de que poucas horas de sono podem levar à depressão. Uma pesquisa da Universidade de Londres mostrou que crianças que sofrem de insónia estão mais sujeitas a desenvolver o transtorno na adolescência. E outro estudo, sobre o risco do transtorno hereditário em jovens, agora na Universidade de Pittsburgh, mostrou que o indicador biológico de recuperação, isto é, não sofrer de depressão, era o sono adequado. Embora seja improvável que dormir pouco seja o único responsável pela falta de ânimo dos adolescentes, aqueles com predisposição genética ou ambiental para a falta de sono podem apresentar risco maior.

O psicólogo William D. Scott Killgore, da Escola de Medicina de Harvard, do Hospital McLean e co-autor da pesquisa do Exército, observa que todos esses efeitos neuro-biológicos podem atingir os jovens de forma intensa. “Como os adolescentes sofrem muitas pressões na vida quotidiana ─ cada vez mais complicada – eles precisam de mais horas de sono que crianças ou adultos; assim, não dormir direito pode se transformar num problema.”

Além disso, durante o período que estamos dormindo produzimos através da hipófise a hormona GH, também conhecido como hormona do crescimento, o que é fundamental para indivíduos em fase de crescimento. Essa hormona é responsável pela síntese de milhões de células que fazem uma verdadeira reciclagem em nosso organismo.

A tendência de ficar até de madrugada acordado, na verdade, é uma bomba-relógio para a saúde, por isso é precisa agir para reduzir o risco de desenvolver essas condições de vida.

Estas alterações de sono, afectam gravemente os adolescentes nos resultados escolares, pois causam:

- Problemas de memória;

- Dificuldade de concentração; despercebimento de mudanças;

- Alterações de humor;

- “Brancas”, devido à falta de descanso após um longo período de noites mal dormidas ou passadas acordadas, os estudantes podem chegar aos exames e não se lembrar da matéria (brancas) apesar de a saberem. É enquanto dorme que a criança consolida a memória e fixa o que aprendeu durante o dia. Especialistas afirmam que isto ocorre devido a uma série de processos químicos e neurofísicos que fazem a pessoa dormir;

- Pensamento e reacções lentas;

- Dificuldade em escutar e entender instruções;

- Erros e enganos frequentes;

- Má avaliação de situações complexas;

- Dificuldade em encontrar soluções para problemas;

- Visão turva e/ou visão em túnel: estreitamento do campo visual;

- Nas raparigas, é comum ocorrer depressão. Os rapazes se tornam mais agressivos e eufóricos.

Dormir mal, não é só dormir poucas horas, dormir em demasiado é igualmente prejudicial.

Dormir na medida certa

Dormir pouco pode aumentar os riscos de desenvolver doenças cardiovasculares. Mas dormir muito também.

De acordo com a pesquisa o risco foi 2,2 vezes maior nos 8% da população analisada que disse dormir cinco horas por noite ou menos, incluindo sonecas durante o dia, do que entre aqueles que dormiam sete horas.

Entre os 9% da população estudada que dormiam nove horas por dia ou mais, o risco de desenvolver algum tipo de doença cardiovascular também se mostrou elevado: 1,5 vez maior do que entre aqueles que dormiam sete horas.

Os resultados foram ajustados para levar em conta variáveis que poderiam ter influência, como idade, sexo, raça, tabagismo, consumo de álcool, índice de massa corporal, nível de actividade física, diabetes, hipertensão e depressão.

Quem costuma passar um fim-de-semana inteiro na cama deve ficar atento. A Fundação Espanhola do Coração (FEC) advertiu nesta sexta-feira que dormir nove horas ou mais por dia aumenta 1,57 vez o risco de sofrer uma doença cardiovascular. Dormir mais horas que as recomendadas podem se relacionar com distúrbios e qualidade do sono que condiciona alterações de trabalho do coração. Para manter um coração saudável, é recomendado manter uma boa hidratação para compensar o suor, seguir uma dieta equilibrada e realizar exercícios físicos com frequência, assim como evitar a exposição solar durante as horas centrais do dia.

Um estudo, conduzido pela Faculdade de Medicina de Warwick, na Inglaterra, diz que mulheres que dormem pouco estão mais sujeitas a sofrer de aumento da pressão arterial.

Conhecido como doença do sono:

De acordo com dados entre 1985/88 e 1992/93 pesquisa da Universidade de Warwick e pela University College London, ambas no Reino Unido, realizaram pesquisa que examinou o padrão de sono e as taxas de mortalidade de 10.308 funcionários públicos britânicos. Constatou-se que não só dormir pouco faz mal à saúde, pois dormir muito também pode trazer grandes riscos a saúde.

Os pesquisadores descobriram que os indivíduos que aumentaram seu período de sono para oito horas ou mais por noite aumentavam em duas vezes ou mais a chance de morrer em relação aos que não haviam mudado seus hábitos apesar de não existir uma ligação clara entre muito sono e problemas de saúde, a permanência na cama por períodos longos pode ser um sinal de problemas como depressão, ou em “alguns casos”, a fadiga relacionada a doenças como o cancro.

Dormindo cerca de sete/oito horas por noite, você está protegendo a sua saúde futura e reduzindo o risco de desenvolver doenças crónicas.

Dicas/Truques para dormir melhor

- Dormir cedo, sem barulho ou televisão ligada, e com o ambiente bem escurecido favorece o sono mais tranquilo.

- Também é importante evitar qualquer actividade agitada assim que escurecer, diminuir a luz da sua casa, comer alimentos leves, abusar da leitura e treinar o organismo a antecipar o sono.

- Não se levante tarde, mesmo que tenha dormido mal na noite anterior, nem use os fins-de-semana para pôr o sono em dia, de modo a não interferir com o seu ritmo biológico.

- Não faça refeições pesadas, nem ingira bebidas estimulantes antes de dormir.

- Não faça sestas durante o dia.

- Um banho quente é bom para ajudar a adormecer, pois relaxa.

- Beber um copo de leite quente antes de ir para a cama pode ajudar a dormir melhor.

Cuide-se e bom soninho!


Até mais!

Marcia Cruz
cruzmarcia@gmail.com



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